Convite para sepultamento
Só para esclarecer, felizmente estou vivo para escrever
isso, e espero que Deus me permita permanecer vivo e saudável por bastante
tempo.
Mesmo assim, quero convidá-los para o sepultamento.
Convido a sepultar todo o rancor, toda a mágoa, toda a
culpa, toda a amargura que envenena o coração, que faz adoecer o corpo e
destrói os relacionamentos.
No sepultamento é permitido orar, desabafar, expressar
emoções, chorar, pedir perdão, perdoar, revelar projetos não executados,
encontros que nunca aconteceram, tempo que não foi investido no convívio e na
profundidade da relação.
Convido ao sepultamento onde ocorre a reunião dos que se
importam, dos que precisam ver, que gostariam de ter dado um abraço enquanto
ainda havia tempo ou de ter dito algo enquanto ainda podia ser ouvido.
Porque amanhã pode ser tarde. Pode não haver mais tempo. A oportunidade
pode ter passado.
Convido a olhar nos olhos enquanto ainda estão abertos, a
dizer o que não foi dito, a ouvir a voz enquanto ainda há fôlego para emiti-la,
a apertar a mão enquanto os músculos são controlados para corresponder.
Que tenhamos coragem e bom ânimo para viver e conviver enquanto
há tempo.
Que não sejamos impedidos pela dependência da recíproca,
porque só somos responsáveis pelas nossas próprias escolhas.
Enquanto estamos vivos, que possamos orar uns pelos outros,
expressar fraternal amor, respeito, carinho, admiração e até tratar as
diferenças, mas talvez apenas aceitá-las.
Que sejamos tolerantes às imperfeições alheias, conscientes
de também sermos portadores de imperfeições.
Que sejamos pacientes uns com os outros, porque também já
sentimos pressa e também já passeamos calmamente.
Porque somos diferentes, cada um do seu jeito. Porque vivemos
momentos diferentes.
Porque também causamos irritação em quem não faz ideia do
que aflige nossas almas. Porque cada um sabe onde aperta o seu sapato, mas não
onde aperta o sapato alheio.
Porque já fizemos barulho enquanto alguém dormia.
Porque já sujamos o que alguém tinha acabado de limpar.
Porque somos humanos, cheios de nós mesmos e tão
reprovadores dos outros humanos, igualmente imperfeitos, mas tão diferentes na
matemática das imperfeições.
Por favor, aceite meu convite. Que possamos juntos sepultar
a intolerância, o preconceito, os julgamentos e as rejeições.
Que possamos celebrar a paz e conviver com respeito e
empatia.
Que os abraços sejam mais fáceis do que as críticas e
visitar-nos seja mais natural do que assistir TV.
Aos cristãos, a vinda do Messias ao mundo é a expressão de
um amor incondicional, o perdão recebido sem merecer, a esperança da salvação. Que
também saibamos viver os ensinamentos que ele nos trouxe em palavras e ações. Em
especial, que saibamos amar sem esperar nada em troca.
Dilermando - Iniciado
em: 07/12/2021
Concluído em: 26/12/2021